Foto: MorgueFile
Filhos naturalmente podem ser muito
apegados aos pais (ou a alguém com quem possuem uma aproximação maior) e isso
está ligado a várias circunstâncias como a idade da criança, algum evento
específico, seu temperamento, etc. Devido a esse apego, é comum que pais lidem
com situações em que a criança chora, grita ou esperneia quando eles saem
para trabalhar ou quando ela precisa ir para a creche, por exemplo. Esse
comportamento faz parte do desenvolvimento normal e demonstra que a criança
construiu vínculos afetivos e enxerga nos pais uma referência de segurança a
quem recorrer.
Dependendo da idade da criança
(quanto mais nova, mais comum que aconteça) realmente pode ser assustador se
separar dos pais. Sabemos que não é do dia para a noite que se adquire
autonomia, e que se constrói a própria identidade.
Porém, a partir de certa idade, se espera que a criança desenvolva essa autonomia, de acordo com suas capacidades e explore o mundo e suas possibilidades. As situações do dia a dia, por
mais que desconhecidas, devem ser vivenciadas e não causar sofrimento extremo.
Por isso hoje vou falar de um
tema que é comum na infância e na adolescência e que precisa ser discutido para
que os pais percebam quando devem procurar ajuda. Inicialmente alguns podem
dizer: “é uma criança muito apegada, não consegue ficar longe dos pais”. Mas
até que ponto isso traz prejuízo à criança e aos pais?
Chamamos de Ansiedade de Separação
quando a criança possui sentimentos intensos de medo e angústia por ter que se
separar dos pais. Esse quadro causa prejuízos na vida da criança, a impede de
se dedicar aos estudos plenamente, prejudica sua vida social e nos leva a uma
série de situações que vou descrever para que vocês possam estar atentos.
- Qual a idade do seu filho?
Quando falamos de ansiedade de
separação a idade é importante, pois indica se a criança já entende algumas situações,
se já consegue se relacionar com outras crianças e adultos, se já sabe realizar
algumas tarefas sozinha, etc. Isso interfere no medo de se separar dos pais e
tende a diminuir à medida em que ela cria mais autonomia e confiança.
O período entre seis meses a dois
anos é uma fase onde existe um medo maior quando a mãe ou o pai se afasta. Isso
porque a criança ainda não entende que os pais sairão, mas depois irão
retornar... é algo comum da idade e naturalmente desaparece com o
desenvolvimento.
A ansiedade de separação tem
início antes dos seis anos, mas pode se estender até a adolescência. Portanto, é
importante observar como a criança se comporta até essa idade e se ainda apresenta
dificuldades significativas ao ficar longe dos pais.
- Esse comportamento é persistente e excessivo?
Como é comum que crianças
pequenas apresentem ansiedade devido à separação, devemos analisar se essa
ansiedade é persistente e excessiva. Se seu filho chora copiosamente ou se
preocupa constantemente com o fato de ficar longe de você, analise se é algo
persistente (que dura pelo menos 4 semanas) e excessivo. Uma criança com
ansiedade de separação começa a demonstrar uma reação exagerada e um medo irreal,
que não se justifica (como por, exemplo, medo da mãe sofrer um acidente, morrer
ou simplesmente medo que as pessoas queridas “desapareçam”, em situações em que
isso não é provável acontecer).
- Como essa ansiedade aparece no comportamento do meu filho (a)?
Crianças pequenas irão chorar,
gritar ou ter crises de raiva para evitar ao máximo a separação. Essa é a forma
que elas encontram de se comunicar. Lembrando que essas reações que estamos
falando devem ocorrer antes, durante ou imediatamente após o momento que a
criança se separa da pessoa querida. Isso pode ocorrer em diversas situações,
seja no momento de ir para a creche ou até dentro de casa, como a mãe ir à
cozinha enquanto a criança fica no quarto (quando se percebe que há uma
ansiedade exagerada até em situações corriqueiras). Já as crianças com mais
idade podem demonstrar essa ansiedade de forma mais sutil. Elas podem não
chorar, mas os pais vão perceber preocupações e temores exagerados (medo que os
pais sofram um acidente, que sejam sequestrados ou que não voltem para casa, preocupação
exagerada com os horários de saída e chegada, etc.). É comum também ligar
exageradamente para os pais, se certificando que esteja tudo bem.
A hora de dormir também é importante. Crianças que têm medo de se separar dos pais sentem desconforto
nesse momento, podem ter dificuldades em adormecer ou somente conseguir dormir
na presença dos pais e essa rotina tende a permanecer por um tempo considerável. Pode existir também uma grande angústia sobre a
possibilidade de dormir fora de casa, o que a faz evitar situações sociais.
Pesadelos recorrentes com o tema separação podem aparecer.
Observe também se seu filho
apresenta dores de cabeça, vômitos, náuseas e dores abdominais. Essas reações
somáticas são comuns em quadros de ansiedade. As náuseas podem ocorrer, por exemplo, pouco
tempo antes de ir para a escola ou após os pais saírem de casa. A criança pode
adoecer para evitar sair ou para que a mãe falte ao trabalho e permaneça em casa, por exemplo.
Crianças com ansiedade de
separação podem tentar ao máximo adiar o momento da separação, por isso é bom
estar atento. Demora demais no banheiro, recusa a acordar ou faltas constantes
na escola, por exemplo, devem ser analisadas.
- Como isso prejudica a vida do meu filho (a)
Quando uma criança está com
ansiedade de separação, o medo/angústia de se separar dos pais é tão grande que isso acaba
impedindo o andamento normal de suas atividades cotidianas. Ir para a escola
pode deixar essa criança tão mal que ela poderá se retrair, se isolar e não
conseguir se envolver nas atividades. A preocupação com os pais poderá ser tão
intensa que ela não conseguirá pensar em mais nada e, consequentemente dificuldades de atenção e prejuízos no aprendizado vão acontecer.
Veja que é diferente da criança que chora ao chegar na creche/escola, mas com o
tempo para de chorar e consegue participar normalmente da rotina escolar. Também é diferente dos momentos de adaptação, como troca de escola ou primeiro dia de aula. O medo/angústia devem ser exagerados e persistentes, percebendo-se que a criança não consegue se adaptar e que outras situações como essa também ocorrem em outros ambientes fora da escola. Ela poderá começar a evitar situações do dia a dia só por medo de
estar longe dos entes queridos e isso é um sinal de que a ansiedade está
prejudicando a vida da criança.
A ansiedade de separação é uma
questão que deve ser observada e tratada, assim a criança poderá voltar a ter
uma rotina normal e evitará prejuízos na vida social, acadêmica e afetiva. Quando não
tratada, a ansiedade de separação pode se estender durante a adolescência e, na
vida adulta, outros tipos de ansiedade ou outros quadros psicológicos podem
surgir, causando sofrimento e prejuízos que a impedem de enfrentar os desafios da vida.
Os pais podem ajudar, evitando
uma superproteção.. permita a criança explorar o mundo (garantindo um ambiente seguro que ela possa explorar) e a
deixe tomar decisões de acordo com sua idade (seja na escolha de um brinquedo,
na escolha de uma roupa, etc.). Pais
ansiosos também podem criar situações que façam a criança ter medo, por isso é
preciso naturalidade nos momentos de dormir e ao deixar a criança na creche, por
exemplo. Criticar a criança também não é uma boa saída. Isso poderá aumentar
seu sofrimento e prejudicar sua autoestima. Caso necessário, procure ajuda e
orientação de um psicólogo.
Espero que com essas dicas vocês
possam tirar algumas dúvidas e saber diferenciar quando o apego é normal ou quando indica
a necessidade de uma atenção especial.
Mayara Medeiros