segunda-feira, 2 de março de 2015

Mordida: também é uma forma de expressão

 Foto: reprodução

















Durante minha prática profissional, uma constante dúvida dos pais é sobre as mordidas na escola, certamente um dos maiores temores de mães com filhos em berçário e escolas de Educação Infantil. Claro, ninguém gosta de ver aqueles sinais doloridos na pele de seu filho. Mas, como qualquer um corre esse risco, é preciso entender o que isso significa.
Desde que o bebê nasce, é pela boca que ele percebe o mundo. Não apenas pelo ato de sucção e das mamadas, mas pelo choro, pelo riso, pelo balbuciar. Á medida que cresce e com o surgimento dos dentes, esse processo continua, e morder também passa a ser uma forma de interagir com o mundo, de perceber a consistência de um objeto e também de provocar reações. Os adultos também fazem isso ao dar mordidas carinhosas nas crianças, dizendo “vou morder você, vou apertar sua bochechinha”. As “mordidinhas de brincadeira” são muito comuns e, nesses casos, devem ser evitadas. A criança assiste a essas formas de comunicação e a partir daí vai usando esses meios para se comunicar também.

Na maioria das vezes as mordidas estão relacionadas ao sentimento de frustração, de raiva, de ciúmes, de necessidade de atenção, entre outros. Ação comum, quando a criança quer alguma coisa e o objeto desejado está na mão de outro, ela entra em disputa, como naquele momento tem urgência em resolver a questão, acaba reagindo com a parte do corpo que tem mais coordenação, que é a boca.
Praticamente, toda criança entre um e três anos poderá lançar mão desse recurso, desse modo, os pais devem ficar cientes que isso é um fato comum nas salas de aula onde convivem crianças que estão ainda em fase de amadurecimento do Sistema Nervoso Central. Elas experimentam as reações dos outros através de suas ações e consequências. Nessa fase, além de não verbalizar, as crianças são egocêntricas e imaginam que tudo no mundo funciona em função de seus desejos.

Apesar de, na maioria das vezes, a mordida fazer parte do desenvolvimento natural da criança, em alguns casos, este comportamento pode sinalizar um problema de ordem emocional, no caso destas mordidas passarem a ser frequentes, a criança pode estar insatisfeita, ansiosa, com sentimento de rejeição ou tentar chamar a atenção através da agressividade. Quando isso acontece, a família e a escola precisam acompanhar de perto e com atenção para descobrir as possíveis causas, entretanto, estes casos não é em si a maioria.

Seja qual for a causa, é importante não taxar a criança de “mordedora”, porque isso vai gerar expectativa de que ela volte a morder, o que pode realmente levar a mais mordidas. O melhor é tratar o fato com tranquilidade, e mostrar à criança que o que ela faz provoca dor, machuca. E, além disso, ensinar que existem outras formas de expressar seus sentimentos. Desse modo, é importante a mediação de um adulto, para fazer com que ela reflita sobre o que fez e para que entenda que há outras maneiras de conseguir o que deseja.

Pode-se dizer, por exemplo: 'se você não gostou do que ele fez, vamos dizer isso a ele', ou 'você quer o brinquedo? Então vamos pedir o brinquedo'". Transformando uma atitude corporal da criança em uma atitude mediada pela linguagem, tanto em casa quanto na escola.

Pois quando esse ensinamento não é dado logo cedo, as crianças crescem e mantém as atitudes corporais para conseguir o que querem. É o que se vê quando crianças mais velhas se atiram no chão e fazem escândalo quando são contrariadas.


                                 Larissa Mariane




(Baseado no texto Mordidas: Agressividade ou aprendizagem? De Ana Maria Mello e Telma Vitória)

Nenhum comentário:

Postar um comentário